DERROTA nº1 DO DIA
Deixamos a Hungria no pior cenário que poderia ter: debaixo de chuva, visto vencendo e para piorar era domingo.
Explico melhor: desde Munique chovia sem parar, ou seja, fazia pelo menos uma semana. Por isso o nosso humor já não estava dos melhores. Mesmo sabendo que pegar estrada debaixo de chuva é furada, decidimos partir para qualquer lugar desde que não estivesse chovendo.
Aliado a isso ainda tínhamos o nosso visto que estava vencendo. Brasileiros têm direito a três meses de visto dentro da Schengen Area na Europa. A Hungria faz parte da Schengen Area, mas a Croácia não. Por isso Croácia seria nosso próximo destino.
Viajar no domingo pode ser a pior ideia para nós. Como se não bastasse todo o comércio fechado neste dia, ainda tem a barreira da língua na Hungria. Difícil encontrar alguém que fale inglês, ou seja, se o carro tiver um problema vamos ter que se virar para consertar.
Bom, no meio disso vamos a DERROTA nº 2. Tínhamos feito uma marmitinha para almoçar no meio da estrada. Paramos em um posto na Hungria e decidimos esquentar a nossa comida. Temos um fogão portátil super fácil de manusear e que já nos salvou inúmeras vezes. Este aqui ó. Mas exatamente neste dia, ele perdeu a rosca que segura o botijão. Faz dois anos que temos ele e agora não funciona por nada, colocamos veda rosca e nada. Pior, antes de sair da Alemanha compramos dois extras botijōes, porque não são fáceis de encontrar.
Nisso já rolou uns ‘puta que pariu, o que mais falta acontecer?’
Para responder a esta pergunta vamos a DERROTA nº 3. Chegamos na fronteira ainda debaixo de chuva. O guarda nos pediu os passaportes, ficamos dentro do carro aguardando. Sabíamos que para entrar na Croácia precisava do seguro carta-verde para o carro, um seguro obrigatório na Europa. O nosso já estava vencido e tínhamos a esperança de conseguir renovar na própria fronteira. Porém nesta fronteira não tinha como adquirir o tal seguro. Veio uma senhora e nos explicou tudo isso e ainda falou que teríamos que voltar tantos quilômetros para comprar, mas como era domingo fatalmente teríamos que esperar a segunda-feira.
Começamos a fazer cara de bobo e desentendidos porque afinal não queríamos voltar e muito menos esperar a segunda. Ela pedia para a gente voltar e a gente fingia que entendia que era para seguir pela estrada. Nisso ela explicou em várias línguas e inúmeras vezes, ela falava em espanhol, inglês, alemão… a gente olhava um para o outro e mandava um ‘não entendi‘. Depois de mais de uma hora nessa enrolação, ela cansou da nossa cara, carimbou o passaporte e mandou a gente seguir e comprar o seguro em algum lugar na Croácia.
Juro, agora a gente ri disso tudo, mas na hora ficamos tensos, nervosos e preocupados se ela nos liberaria. Pegamos os passaportes e voamos pela estrada rezando para não encontrar nenhum policial que nos pedisse o tal seguro, porque isso significaria multa alta.
Para melhorar o dia: chuva, domingo, fronteira, almoço frio, a temperatura começou a cair – já estávamos dirigindo com todas as roupas no corpo e o aquecedor no carro ligado. Pensamos em dirigir até Zagreb, capital da Croácia, e encontrar um camping. Ótimo plano se a DERROTA nº 4 não estivesse pronta para acontecer: o nosso GPS apagou! Quando coloquei a mão nele estava pegando fogo, a saída do ar quente do carro estava nele e dai já viu né? O GPS queimou e a gente não percebeu.
Detalhe, o GPS apagou justamente em um desvio que precisávamos fazer. A estrada tinha várias saídas e não sabíamos qual deveríamos pegar. As placas não ajudam: são palavras com č, š, seguidas de vários k,z,v e poucas vogais. Decidimos fazer o desvio que pensávamos que o GPS tinha mandado. Nem andamos 100 metros no desvio e vimos cabines na rodovia que era pedagiada. F*deu e daí veio a DERROTA nº 5! A moeda da Croácia é o Kuna e não tínhamos ainda parado em um caixa eletrônico para sacar o tal dinheiro deles.
Por sorte, vimos uns carros parados do lado direito da pista antes de chegar nas cabines. Estacionamos ali debaixo de chuva, com o GPS queimado, sem dinheiro, putos da vida e sem saber o que fazer.
Depois de algum tempo conseguimos fazer o GPS pegar novamente, o cartão de memória dele foi o que queimou. Tínhamos outro cartão de memória backup e com os nossos computadores conseguimos salvar os mapas neste novo.
Ufa, nem tudo estava perdido! Percebemos que alguns carros que estavam ali estacionados juntos com a gente conseguiam voltar na rodovia para o mesmo sentido que entramos. Decidimos tentar e conseguimos sair da rodovia pedagiada sem precisar pagar.
Nisso já era noite e estávamos exaustos. Saímos dali e fomos direto para um caixa eletrônico, dai vem a DERROTA nº6 (achou que tinha acabado?!). Quem disse que tinha dinheiro na conta? Não tinha! O depósito que estávamos esperando não aconteceu, conseguimos sacar 10 euros em kuna (moeda da Croácia) e nada mais.
A esta altura nós dois nem nos falávamos mais… era tanto nervoso, tanta chuva, tanta fome que tudo o que a gente tinha colocado como regra de estrada já tinha ido por água abaixo. Você pode ver as regras aqui.
E para este dia terminar bem seguimos para o posto mais próximo, paramos o Brasileirinho ao lado de alguns caminhōes e debaixo de chuva abrimos a barraca. Nunca um dia foi tão longo e tão desastroso na nossa viagem! Este ficou para a lembrança do dia que deu tudo errado!
O que aprendemos? Que por pior que seja o problema sempre tem como piorar! Porém, de alguma maneira as coisas vão se resolver. Passado algum tempo você ainda vai lembrar com uma certa raiva daquele dia, mas com certeza vai rir de tudo isso!
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