O plano era seguir de Varsóvia e entrar na Bielorússia, dali atravessaríamos o país até Moscou. Deixamos Varsóvia, na Polônia, e seguimos até próximo a fronteira. Como já era fim de tarde encontramos um rio perto da estrada e conseguimos um lugar bom para pescar e passar a noite. No final o Renan não conseguiu pescar nadinha e ainda quase perdeu a nossa cadeira com o canivete. Explico: ele deixou as coisas na beira do rio enquanto foi buscar algo no carro e quando voltou o vento forte havia jogado a cadeira e tudo que tinha nela para dentro da água. Adivinha quem teve que pular no rio gelado para buscar? Ele mesmo! Coitado… mas conseguimos recuperar tudo e um chá quente resolveu a friaca que estava fazendo.
Na manhã seguinte acordamos cedo, preparamos o café e seguimos firmes para a fronteira com a Bielorrússia. A saída da Polônia foi super demorada, teve guarda revistando nosso carro com cães farejadores, várias pessoas checando o nosso documento e por alguns instantes pensávamos que já estávamos entrando na Bielorússia – que aquela burocracia toda não parecia ser apenas para deixar a Polônia – mas era. Só ali foram 2 horas e meia. Depois seguimos por uma ponte com alguns policiais já da Bielorússia, rolava uma tensão no ar e vários olhares estranhos para nós. Depois de muita espera conseguimos chegar no guichê para entrega dos passaportes, ninguém falava inglês – nos comunicamos com mímicas e repetições de palavras mas pouco compreendíamos. Os nossos passaportes são novos, não têm quase nenhum carimbo porque foram emitidos em Belgrado na Sérvia, poucos meses atrás – dezembro de 2015. Sempre levantamos suspeitas com isso, sentimos que se o passaporte estivesse cheio de carimbos daria mais segurança para as autoridades. Explicamos o motivo do passaporte estar em branco e fomos orientados a aguardar no carro. Depois de mais de uma hora chegou um general que falava inglês. Ele explicou que teríamos que voltar 45 km para fazer uma visita à embaixada e solicitar uma licença para atravessar o país ou então se desejávamos chegar a Rússia deveríamos fazer o contorno passando por Lituânia, Letônia e Estônia sem precisar entrar na Bielorússia.
Na hora ficamos super chateados, o general foi educado e soltou um: “I am sorry”. Nossos passaportes foram carimbados com algo que parece ser um “recusado” e tivemos que voltar para a Polônia. De novo mais demora, mais burocracia, mais explicacões na fronteira. No final foram mais de 5 horas entre idas e vindas.
E novamente tivemos que mudar o plano, pois quando fomos até a tal embaixada (45 km de volta na Polônia) o lugar estava fechado e apenas abriria no dia seguinte. Perguntamos quanto tempo levaria o processo e fomos informados que uma semana. Nāo queríamos esperar tanto e assim seguimos sentido norte, fronteira com a Lituânia.
Dirigimos decepcionados e debaixo de chuva (tinha como ficar mais depressivo com isso?!). Atravessamos a fronteira com a Lituânia já tarde da noite e encontramos um lugar para dormir na beira da estrada. Pouco sabíamos sobre estes países, não tínhamos a menor ideia do que visitar. Nas nossas rápidas pesquisas que fizemos quando passamos pelo Mc Donalds para pegar internet percebemos que Letônia e Estônia são mais turísticas e assim seguimos. Passamos rapidamente por Kaunas, capital da Lituânia, deixamos o Brasileirinho estacionado na rua e demos uma volta na cidade. Ficamos observando como aquela cidade seria incrível – no verão – porque debaixo de chuva estava uma droga. Almoçamos em um restaurante chinês no centro da cidade, passeamos pelo centro histórico e visitamos um supermercado para checar os $$ e até que estavam de acordo com o que estávamos pagando (as referências são sempre as mesmas o preço do tomate, da cerveja e do pão).
Como Lituânia, Letônia e Estônia são países pequenos acabamos cruzando no início da tarde para a Letônia. A gente não tinha como ficar mais desanimado, a chuva dava o tom da tristeza e o frio assombrava. Depois de procurar muito acabamos encontrando um camping que na verdade era o estacionamento de um hotel – Hotel ABC Camping. O lugar tinha estrutura zero e toda vez que queriamos usar o banheiro tínhamos que procurar um quarto do hotel.
Riga é um charme, foi a cidade que mais gostamos e que mais nos surpreendeu. Tem um estilo medieval sem ser turisticamente brega, os preços são acessíveis e tem muita história ali para ser contada. O que mais gostamos, de novo, foi o mercadão municipal. Muito salmão barato e muitas comidinhas prontas para serem consumidas por ali mesmo. Fizemos a festa.
Pensamos em passar mais uma noite por ali, mas acabamos seguindo para o Parque Nacional Gauja – mais ao norte. Por lá dormimos na beira do rio e fizemos (ainda debaixo de chuva) uma fogueira para nos esquentar. Ali aconteceu um lance muito engraçado, estávamos lá debaixo de chuva vestidos com todos os nossos casacos e tentando fazer a fogueira pegar fogo mesmo com a madeira muito molhada. O Renan inventava todas as formas de fazer fogo pegar e eu abanava para ajudar (ou para espantar a água, sei lá). De repente do nada surge um ciclista do nosso lado, passa e não responde ao meu “hello?!”. O sujeito parou poucos metros a nossa frente e percebi que ele tinha uma toalha em volta do pescoço, imaginei que seria para enxugar o suor ou a água da chuva – tolinha eu. O moço sem titubear arrancou a roupa todinha na nossa frente, não olhou para os lados e deu tchibum na água congelante do lago. Eu queria gargalhar, virei de costas e comecei a rir tentando me controlar. O Renan ficou master sem graça (e semi-puto). Eu falava para ele o quanto aquilo era surreal, nós dois ali vestidos com todas as roupas que tínhamos tentando nos esquentar enquanto vem um peladão se refrescar no lago congelante! Não demorou muito o senhor nu.com.a.mão.no.bolso se recolheu, em todos os sentidos, e foi se embora…
Essa vai ficar para a história.
Na manhã seguinte fizemos um trekking pelo Parque Nacional e pegamos estrada de novo, dessa vez rumo a Estônia. Assunto para um próximo post…
Deixe-nos um comentário!
comentários